Em decorrência do encerramento do canal no Brasil, decidi escrever um texto recapitulando sua história: seu início nos EUA, suas reformulações, sua chegada ao Brasil e o seu fim no país. Conheça a história geral do Disney Channel.
Phineas e Ferb foi o último programa exibido no Disney Channel Brasil. Abaixo, o comunicado da Claro sobre a descontinuação do canal.
Origens e Desenvolvimento
Entre 1977 e 1978, o executivo da Walt Disney Productions, Jim Jimirro, apresentou a ideia de um canal de televisão a cabo que apresentaria o arquivo de cinema e televisão do estúdio. Como a empresa estava se concentrando no desenvolvimento do Epcot Center no Walt Disney World, o presidente da Disney na época, Card Walker, recusou a proposta. Porém, a empresa voltou atrás, e reviveu a ideia em novembro de 1981, entrando em uma parceria com a unidade satélite do Grupo W, no entanto, o Grupo W acabaria desistindo da joint venture por uma série de desentendimentos.
Apesar do fim da parceria, o The Disney Channel continuaria com o seu desenvolvimento, agora apenas com a supervisão da Walt Disney Productions.
Estreia e Primeiros Anos
O The Disney Channel (sim, eles usavam o "The" no nome) foi lançado em 18 de abril de 1983 como um canal premium, ou seja, mesmo se você tivesse televisão a cabo, sua provedora iria oferecer o canal como um serviço de televisão pago, e você teria que assinar para ter o canal definitivamente.
Good Morning, Mickey! foi o primeiro programa exibido no canal e também foi sua primeira série original, no qual era um compilado de diversos curtas da Disney com o Mickey, apesar de também mostrar curtas com outros personagens, como o Donald e o Pateta. O primeiro filme clássico da empresa a ser transmitido foi Alice no País das Maravilhas e o primeiro filme original do canal foi A Força da Esperança. Seu primeiro logotipo era uma silhueta da cabeça do Mickey Mouse em um retângulo com listras, representando uma tela de televisão.
O canal originalmente operava por 16 horas, das 7 da manhã até às 11 da noite, mas no dia 1º de abril de 1984, estendeu sua programação por 19 horas (das 6:00 à 1:00 da manhã) até que a partir de 7 de dezembro de 1986, passou a ser um canal 24 horas. Para seus assinantes, forneceu um guia/revista mensal (depois bimestral) chamado de The Disney Channel Magazine, que continha sua programação e reportagens sobre os próximos programas, a revista também emprestou seu nome a uma série de intersticiais que passavam nos intervalos, e em 1997, deixou de ser publicada e foi substituída por Behind The Ears (que também deu nome a uma outra série de intersticiais). Sua programação consistia em exibições de produções clássicas do conglomerado, reprises de programas de televisão mais antigos e séries originais e adquiridas (tanto que a Disney gastou cerca de 20 milhões de dólares na compra e desenvolvimento da programação).
O Canal no Final dos Anos 90 e Início dos Anos 2000
Em 1997, o The Disney Channel deixava de ser um canal premium e se tornava um canal de televisão a cabo básico. O canal também passou por uma grande reformulação, tanto na identidade visual quanto na programação. Primeiramente, eles retiraram o "The" do nome, se chamando apenas de "Disney Channel". Eles também apresentaram um novo logotipo, projetado pela Lee Hunt Associates, que era um televisor preto com orelhas de Mickey, com o nome "Disney" dentro e "Channel" logo em baixo. Geralmente, diversos personagens, como o próprio Mickey, eram apresentados dentro da televisão, mas este elemento foi descartado em 1999, quando introduziram uma variante remodelada, embora o logotipo original continuasse sendo usado até 2002 de forma secundária.
Outra mudança que se deve destacar é que para atender às diversas pessoas de faixas etárias diferentes que assistiam ao canal, houve a necessidade de dividir a programação em três blocos: Playhouse Disney, Vault Disney e Zoog Disney. O Playhouse Disney era um bloco matutino que incluía programas voltados para crianças em idade pré-escolar com menos de 8 anos e o Vault Disney era um bloco noturno que apresentava filmes e curtas clássicos da Disney e programas mais antigos.
O Zoog Disney era o bloco vespertino do canal, destinado ao público jovem e era o mais destinto dos três. Era apresentado por personagens robóticos, os Zoogs, projetados por David Freemont da Colossal Pictures para incentivar a interatividade do telespectador pela internet, que residiam no "Zeether", o espaço entre as televisões e computadores. Este bloco apresentava séries, videoclipes e conteúdo enviado pelos telespectadores no site oficial.
Crescimento da Popularidade
Em 2002, o canal já estava disponível em 80 milhões de casas nos EUA. No final de setembro daquele ano, o Disney Channel iniciou uma reformulação gradual, descontinuado a marca Zoog Disney (embora continuasse existindo como um site separado até 2003) e extinguiu o Vault Disney, para contribuir com a imagem moderna que o canal queria passar. A remoção do bloco resultou no canal não apresentando mais reprises voltados para o público adulto/familiar pela primeira vez, com os filmes animados clássicos exibidos no horário nobre se tornando os únicos programas que visam um público familiar, e aumentando sua dependência em sitcoms e séries animadas originais. O Playhouse Disney foi o único dos três que permaneceu no canal, porém em 2011 foi relançado como Disney Junior.
Em 30 de setembro de 2002, o Disney Channel apresentou um novo logotipo projetado pela CA Square, no qual era um contorno da cabeça do Mickey Mouse (uma outra variante foi introduzida em 2010 com o logo dentro de um quadrado, mas, semelhante ao logo de 1997, continuou sendo usado secundariamente até 2014) e um novo design gráfico para se adequar ao novo visual, bem como um jingle mnemônico de quatro notas composto por Alex Lasarenko. A partir de 1º de junho de 2003, o canal começou a usar uma série de bumpers que são considerados a sua marca registrada: onde atores ou personagens animados dos programas do canal desenhavam o logotipo usando um bastão luminoso uma varinha. Eles são recriados até hoje, mesmo com o logotipo não sendo mais o mesmo desde maio de 2014.
Nessa mesma época foi o início do pico de popularidade do canal, que se deve, principalmente, a sua programação direcionada especificamente para meninas pré-adolescentes e adolescentes. A maioria das sitcoms e filmes originais de grande sucesso eram musicais e havia a divulgação de teen idols. Inclusive, essa estratégia de direcionar a programação do canal para este público-alvo em específico foi desaprovada por alguns críticos, que argumentam que o canal teve uma diminuição na exibição de programas de animação e que levou a remoção de materiais mais antigos da programação com a extinção do Vault Disney.
A Chegada ao Brasil
Antes do canal estrear no Brasil, havia um canal pay-per-view chamado Disney Weekend, primeiro canal com programação exclusiva da Disney no país, criado em 1997 e disponível nas extintas operadoras TVA e DirecTV Brasil. Era um teste para a implantação da versão brasileira do Disney Channel, e como dá a entender pelo nome, era somente exibido aos finais de semana, abrindo a programação às 18:00 das sextas-feiras e encerrando à meia-noite nos domingos.
No dia 1º de abril de 2001, o Disney Weekend encerrava suas transmissões pela última vez e quatro dias depois, entrava no ar o Disney Channel Brasil nas operadoras onde o Disney Weekend era disponibilizado. Diferentemente do seu antecessor, o Disney Channel era um canal 24 horas (assim como o canal original). Ele exibia os programas originais do canal dos EUA dublados, mas também começou a produzir suas primeiras séries nacionais, como o Zapping Zone.
Quanto a identidade visual, inicialmente entre 2001 e 2002, o canal brasileiro adotou um mesmo design gráfico de outras versões do canal de países como a França e o Reino Unido, onde o logotipo era uma silhueta da cabeça do Mickey com as orelhas vermelhas e a cabeça azul, ou seja, nada de Mickey-Televisão por aqui. Em 2002, assim como as outras versões internacionais, adotou o mesmo design gráfico do canal original dos EUA, e foi assim até um certo período, quando os canais da América Latina começaram a usar uma identidade visual própria.
Algo que deve se notar é que canais abertos (especificamente a Rede Globo e o SBT) adquiriram vários programas do canal para exibi-los em suas programações, geralmente dentro de seus programas infantis. Nos anos 2000, a Globo adquiriu diversos desenhos e séries, enquanto o SBT apenas adquiriu As Visões da Raven e seu spin-off, Cory na Casa Branca. Em 2015, a emissora de Silvio Santos fecharia um novo acordo com a Disney, dando origem ao bloco Mundo Disney, ficando no ar até 2018.
Então, por que acabou?
Em 2 de dezembro de 2024, foi anunciado que o canal seria encerrado no Brasil no dia 28 de fevereiro de 2025, junto com seus canais irmãos (exceto a ESPN), após a The Walt Disney Company decidir centralizar todo o seu conteúdo no Disney+, além das constantes quedas de audiência. O canal encerrou de fato as suas transmissões por volta das 6:03 horas da manhã do dia 1º de março de 2025, depois da exibição de Phineas e Ferb. No fim de sua exibição, os créditos finais do desenho ficaram congelados por 1 hora, e logo em seguida, em alguns serviços, foi inserido um comunicado sobre o fim do canal.
Alguns Vídeos e Fotos
Contagem regressiva para a estreia do canal em 1983.
Em 1986, a Colossal Pictures produziu alguns bumpers para o canal com o Mickey. Note que em neles, o Mickey não mostra o rosto, apenas os braços e às vezes as pernas.
O logotipo de 1997 em questão.
Logotipo introduzido em 2002, junto com o jingle de quatro notas.
"E você está assistindo ao Disney Channel!"
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